Rubi Quebrado no Concreto

Nas entranhas cinzentas do asfalto,
Onde o tempo esculpiu seu calhau,
Um mosaico tátil, amarelo-musgo,
Testemunha silenciosa do que se calou.

Ali, entre sulcos e bolhas gastas,
Como sangue seco de uma memória,
Jaz um coração de rubi estilhaçado,
Fragmentos de uma luz, finda sua história.

A lanterna de um tempo que se partiu,
Seus cacos vermelhos, pequenos pulsos cessados, Espalhados sem ordem, mas com um grito mudo,
Entre galhos secos, em abraços desamparados.

Os ramos finos, veias da terra adormecida,
Se entrelaçam aos vidros, frios e quebrados,
Contrastando a vida árida com a chama fugida,
Segredos de um instante, para sempre marcados.

É a melancolia urbana que se revela,
Num detalhe esquecido, de dor ou de azar,
A beleza trágica de uma falha tão singela,
Um poema visual a se desvendar.