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A escultura "Mãe D'Água", habilmente moldada em argila fria, transcende a mera representação figurativa para se firmar como uma obra de profunda ressonância ancestral e estética psicodélica. Não é apenas uma peça de arte, mas um portal para a cosmovisão dos povos tradicionais, um elo tangível com a essência da criadora. O artista revela que é "surpreendente quando fazemos o que amamos" e que trazer "Arte psicodélica em argila tem sido mundo gostoso, principalmente quando se tem significados na cosmovisão dos povos tradicionais porque me traz continuidade de minha própria ancestralidade e essência". Esta declaração confere à obra uma profundidade que vai além do visível, imbuindo-a de um valor existencial e cultural inestimável.

 

Visualmente, a "Mãe D'Água" impressiona pela sua forma orgânica e primordial. A escolha da argila fria, em seu tom terroso natural, confere à escultura uma autenticidade e uma textura tátil que convida ao toque e à contemplação. Longe de buscar uma simetria ou perfeição clássica, a artista abraça a irregularidade e a fluidez, características intrínsecas ao processo de moldagem manual e à própria natureza da argila. Este material, em sua simplicidade e maleabilidade, torna-se o veículo perfeito para expressar a complexidade do tema.

 

A figura central, claramente feminina, é interpretada com uma audácia que beira o onírico. Múltiplos seios, sugerindo uma abundância e fertilidade descomunais, emergem da forma, evocando arquétipos de divindades maternas e geradoras de vida de diversas culturas antigas. As curvas generosas do ventre reforçam essa iconografia da Grande Mãe. No entanto, o que realmente a distingue é a fusão de elementos corporais com formas que parecem ser serpentes, raízes ou correntes d'água, entrelaçando-se e fluindo ao redor do corpo. Essa amálgama de formas confere à escultura uma qualidade metamórfica, como se a figura estivesse em constante transformação, pulsando com a energia vital da própria água. A ausência de detalhes faciais nítidos intensifica o caráter universal e arquetípico da "Mãe D'Água", permitindo que cada observador projete suas próprias interpretações e memórias ancestrais. A superfície, marcada pelas mãos da artista, celebra a materialidade e a intervenção humana, sublinhando a paixão e o "mundo gostoso" que permeiam o processo criativo.

Mãe D'Água

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