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A obra "Portal Senhor do Fogo", executada com maestria em acrílica sobre placa de madeira, transcende a mera categoria de pintura para se firmar como uma profunda imersão sensorial e simbólica. É uma jornada em um universo de energia primal e transformação, onde o limiar entre o visível e o esotérico é magistralmente explorado. O próprio título já é uma chave hermenêutica, convidando o observador a desvendar um mistério flamejante que pulsa na tela.

 

À primeira vista, a paleta de cores domina o campo visual. O vermelho profundo, quase rubro, serve como um pano de fundo cósmico, a base para a explosão de laranjas e amarelos vibrantes que constituem o elemento central: o fogo. A textura, notavelmente visível, é um testemunho da técnica empregada. O impasto na representação das chamas não apenas lhes confere uma tridimensionalidade impressionante, mas também uma sensação de movimento e calor palpáveis, quase convidando o toque, uma sinestesia visual que aproxima o observador da essência do elemento.

 

A composição é tanto simbólica quanto equilibrada. No topo, o fogo irrompe não como um incêndio caótico e destrutivo, mas como uma força primordial, controlada e direcionada, um fogo criador e purificador. A partir dele, ou talvez em direção a ele, desenvolvem-se linhas sinuosas e entrelaçadas em tons de vermelho e preto. Essas linhas podem ser interpretadas como videiras da vida, serpentes ancestrais, ou até mesmo cadeias de DNA estilizadas, sugerindo a interconexão de todas as coisas. Elas guiam o olhar para o centro da obra: um grande círculo ou portal em um tom de preto absoluto, uma janela para o desconhecido.

 

Este "portal" negro é o ponto de ancoragem e o mistério central. Ele é circundado por elementos intrigantes: olhos amarelados que parecem emergir do abismo, observando e sendo observados; um conjunto de triângulos vermelhos que podem simbolizar o fogo, a ascensão espiritual ou a manifestação trina; e uma forma de meia-lua ou recipiente em tom claro que adiciona um contraponto misterioso à intensidade predominante. A conjunção desses elementos cria uma figura estilizada, quase um ícone ou um rosto arquetípico, que emerge da escuridão. O fundo salpicado de pontos luminosos, semelhantes a brasas ou estrelas em um céu noturno e infernal, intensifica a sensação de um ambiente cósmico e energético, uma tela onde o universo se revela em chamas.

Portal Senhor do Fogo

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